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1993 - Um título conquistado com trabalho e fé.

Santa Cruz FC campeão pernambucano de 1993 - A histórica virada do Santa Cruz FC sobre o Náutico e o título de campeão 30 anos depois.



Estádio José do Rego Maciel lotado pelos torcedores do Santa Cruz Futebol Clube
Estádio José do Rego Maciel. Arrudão. Recife

Nas várias atividades humanas, especialmente no esporte, a soma dos detalhes faz a diferença final para o sucesso nos grandes desafios. Foi assim que o 22º título de campeão pernambucano conquistado em 1993 pelo Santa Cruz, pode ser explicado. O jogo decisivo, o tradicional “clássico das emoções”, entre Santa Cruz e Náutico entraria para a história.

Num bate-papo recente com o amigo e professor Charles Muniz, comandante daquela equipe – e que contribui com a construção deste artigo - concordamos que a vitória final foi sendo construída a partir da pré-temporada.  Os mais céticos, que só enxergam o futebol pelo resultado do jogo, talvez relutem em aceitar tal ideia. Fizemos as avaliações necessárias, com os recursos ainda analógicos (trena, cronômetro etc.), mas que nos davam as informações que precisávamos para estabelecer o ritmo de treino de maneira individualizada.


A preparação


Na conversa, lembramos os momentos que anunciávamos a carga de treino para os jogadores, na pré-temporada.

- Atenção! Vocês irão fazer doze “tiros” (corridas) de mil metros com o tempo de 4 minutos e 4 minutos de intervalo.

Quem conhece de perto o comportamento de alguns jogadores nessas situações conhece bem a reação:

- Professor... e depois a gente vomita aonde? 


            Era assim. Mas, como planejado, nós tínhamos o controle. No nosso entendimento, a preparação não era só física. O que muitos desconhecem é que a elevada exigência física é uma forma de conduzir o atleta a superar seu limite psíquico. Dito de outra forma, ele é capaz de resistir às exigências físicas por por mais tempo, mesmo com  à redução de energia disponível no organismo e a consequente fadiga extrema, devido à adpatação. A preparação realizada explica, ao menos em parte, o fato da equipe ter jogado grande parte dos 90 minutos do jogo e mais 30 da prorrogação com apenas dez jogadores. Washington, artilheiro do campeonato com 22 gols, havia sido expulso aos 39 minutos do primeiro tempo. 


O aproveitamento da equipe


            Os números do campeonato ratificam a boa performance e a conquista do Santa Cruz, valorizada mais ainda pela qualidade dos times do Sport e, especialmente o Náutico, de Lúcio Surubim, Paulo Leme, Cafezinho e outros bons jogadores. O Tricolor esteve invicto havia 21 jogos, entre a rodada do dia 2 de maio até o dia 22 de agosto daquele ano, quando perdemos a primeira partida da final por 1 x 0 para o Náutico. Com esse resultado os alvirrubros passaram a ter a vantagem do empate no tempo normal no jogo decisivo. O Santa precisava vencer o jogo no tempo normal para provocar a prorrogação. Assim, a vantagem do empate no tempo extra passaria a ser do tricolor, por ter maior número de vitórias no campeonato (foram 20 vitórias, 15 empates e apenas 4 derrotas). O Santa Cruz se manteve invicto também nos jogos contra o Sport, foram 3 vitórias e 5 empates. O saldo de gol impressiona: 48 (foram marcados 78 e sofridos 30); o Náutico, segundo colocado no saldo de gol teve 25.  


O jogo (clique para assistir os momentos decisivos)


A partida final foi realizada no Arruda, na noite do dia 28 de julho de 1993. O público foi de 71.243 torcedores, o 5º maior da história do clube. Tínhamos problemas para escalar o time, pois alguns jogadores experientes e considerados titulares que vinham atuando não puderam jogar. Foi o caso do zagueiro Paulo César, o médio volante Leomir e o lateral Marco Antonio. Eles foram substituídos, respectivamente, por Reginaldo (formado na base e em seu primeiro ano como profissional), Mazo e Araújo.


Apesar dos desfalques, antes do jogo  o clima era de muita confiança. No quadro negro pendurado nas paredes dos corredores do vestiário, Charles escreveu duas frases: “QUANDO AS BRASAS SE JUNTAM AQUECEM MUITO MAIS” e a segunda sugerida por uma torcedora, “DEUS É UMA LUZ QUE NUNCA SE APAGA”.  A frase iria contrastar com outra frequentemente dita no futebol e repetida naquela final: “No apagar das luzes, o gol de Célio”.  



O treinador, professor Charles Muniz
Professor Charles Muniz, treinador

O gesto de fé inspirado pelo nosso treinador se confirmou ao longo de todo o jogo, pois a equipe não se entregou em nenhum momento, mesmo com todas as adversidades que ocorreram naquela noite: 1) O gol de Fernando que abriria o placar a favor do Santa Cruz, anulado por impedimento, pelo auxiliar Waldomiro Matias e confirmado pelo árbitro Wilson de Souza – o outro bandeirinha era João José Venceslau (Cuíca); 2) A expulsão de Washington; 3) A falha do goleiro Marcelo (agora treinador Marcelo Martelotte no gol de Paulo Leme numa cobrança de falta; 4) O fato de estar perdendo o jogo quando faltavam apenas 7 minutos para o final; 5) O abandono e o silêncio de grande parte torcida tricolor, a partir dos 30 minutos do segundo tempo, esvaziando vários setores do estádio, enquanto a torcida alvirrubra cantava, agitava bandeiras e comemorava antecipadamente o título; e, finalmente, o desgaste de disputar ainda a prorrogação, mesmo com um jogador a menos.


A esperança ressurgiu para o “mais querido” no gol de empate (1 x 1), do meia Fernando, ocorrido aos 38 minutos do segundo tempo. Daí, o time cresceu, incansável dominou o adversário. Tenho vivo na memória o instante exato em que olhei o meu cronômetro, que marcava 44 minutos e 25 segundos. Nesse instante, Araújo (que era lateral direito e jogou improvisado como zagueiro), estando próximo à sua área de defesa, rebateu a bola com um chute para o alto, a bola viaja até a entrada da área dos alvirrubros, quica no gramado e Célio aproveita para chutar “de primeira”, sem chances para o goleiro Paraíba. Era o gol  histórico de Célio, definindo a vitória do tricolor.

Fim de jogo, Santa Cruz 2 x 1 Náutico. A forma como se deu o desfecho da partida, ensejou conhecido cronista esportivo a utilizar na sua narração a curiosa frase: “O poeta disse: o jogo só acaba quando o juiz termina”.

Ufa! Que sufoco, vencemos o jogo! Muitos abraços, gritos, comemorações no campo e nas arquibancadas. A torcida começou a voltar ao estádio, agora muito mais confiante. Torcedores que já tinham chegado em casa retornaram para o Arruda. Mesmo aqueles torcedores que nem tinham comprado, se correram para o Arruda, tanta era a empolgação. Os portões do estádio naquele momento eram corações abertos para todos que quisessem conferir o que poderia ser um milagre.


Equipe do Santa Cruz que iniciou o jogo da final do pernambucano de 1993.
Equipe do Santa Cruz FC que iniciou o jogo. De pé, da esquerda para a direita: Aldemir Teles (Dema) fisiologista, Araújo, Marcelo, Reginaldo, Júnior Cordel, Mazzo e Quinho; Agachados:Peninha (massagista), Marcelinho, Washington, Fernando, Marcelo e Serginho.

No intervalo, antes de iniciar a prorrogação, com todos os atores dentro do campo, foi possível observar o estado de ânimo e a fisionomia dos jogadores do Náutico. Naquele momento deduzi que o título seria nosso. Não restavam mais dúvidas. O empate nos daria o título e os guerreiros alvirrubros pareciam estar voltando para casa depois de mais uma batalha inglória. Iniciou-se a prorrogação e se inverteram os gritos, os cantos e o agito das bandeiras das torcidas. O nosso exército de torcedores estava recomposto. A energia dos nossos jogadores também. Finalmente a título e a festa.

Ao final do jogo, Charles Muniz dedicou o título ao amigo Nélson Brito, torcedor dos mais apaixonados  Ele havia perdido um filho adolescente seis meses antes desse jogo histórico. Nesse período, por causa da morte do jovem, ele entrou em profunda depressão e não costumava sair de casa. No dia jogo, surpreendeu a todos, especialmente os familiares mais próximos e foi torcer pelo seu time. O que se sabe agora, passados 21 anos, é que Nélson superou a depressão. A felicidade com a conquista do “santinha” lhe trouxe a cura.



Foto da comemoração do título no próprio estádio do Arruda com a presença de dirigentes, jogadores e comissão técnica.
Foto da comemoração pela conquista. Dirigentes, jogadores e comissão técnica.

 

Equipes:

SANTA CRUZ: Marcelo; Araújo, Júnior Cordel, Reginaldo e Quinho; Mazo (Célio), Serginho e Fernando; Marcelinho (Gil), Washington e Marcelo. Técnico: Charles Muniz (Auxiliaram na preparação física e no acompanhamento fisiológico o professor Fernando Galvão e este quem vos escreve)

NÁUTICO: Paraíba; Cafezinho, Lúcio Surubim, Parreira e Baiano; Cléber, Borçato (Edílson) e Paulo Leme; Newton (Niquinha), Mário Carlos e Lau. Técnico: Luciano Veloso

 



 

 

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