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A nova regra para substituição, a concussão no futebol e os riscos da ETC

O que diz nova regra para o Campeonato Brsileiro 2024 para os casos de concussão do jogador e os riscos de encefalopatia traumatica crônica (ETC)




Neste artigo, pretendemos alertar os esportistas, profissionais de saúde e público para os cuidados em previnir choques e pancadas na cabeça, especialmente, e tomar o cuidado necessário para o pós-trauma em atividades físicas e esportivas, devendo buscar acompanhamento médico especializado para melhor diagnóstico e inicio do tratamento quando necessesário evitando a progressão de doenças.


Mudança na regra de substituição

O Campeonato Brasileiro de 2024, das séries A e B, chegou com novidades. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou a inclusão na regra da competição a possibilidade de uma substituição extra para casos de concussão cerebral. Na rodada do domingo, dia 14, a segunda do campeonato, 4 jogadores deixaram o campo por concussão. No jogo Vasco e Grêmio, o zagueiro Kannemann do Grêmio foi substituído após um choque na cabeça contra o jogador do Vasco. Na partida entre Atlético-GO e Flamengo, o choque de cabeça foi entre o lateral Matías Viña, do Flamengo, e o zagueiro Adriano, do Atlético-GO. Ambos foram substituídos. Na partida entre Cruzeiro e Botafogo, o volante Marlon Freitas, do clube carioca, precisou ser substituído após sofrer uma pancada na cabeça. Desses jogadores, apenas Viña e Marlos Freitas realizaram os exames e não apresentaram lesão cerebral no exame de Tomografia Computadorizada (TC).


Um jogador correndo em em campo de posse da bola durante campeonaato brasileiro de futebol
O lateral Matías Viña, do Flamengo foi substituido por concussão

A nova regra da substituição adicional por concussão foi adotada após a atualização, de acordo com as últimas regras emitidas pelo IFAB (International Football Association Board), em 8 de fevereiro de 2021. A novidade é que a substituição por concussão não conta para as cinco trocas normais a que cada time tem direito nos jogos. A substituição adicional pode ser feita em qualquer momento do jogo e não é contabilizada nas três paradas para trocas de jogadores previstas  na regra. O objetivo é manter a integridade física do atleta que, uma vez diagnosticado com concussão ou suspeita pelo médico da equipe não poderá retornar ao jogo. A decisão de retirar o jogador é exclusivamente do médico. O árbitro e/ou comissão técnica não terão envolvimento sobre a decisão de substituição do atleta.


Segundo a CBF, a cada jogo será permitida apenas uma por time. Antes da partida, a equipe de arbitragem entregará ao médico um cartão específico para a substituição por concussão (de cor vermelha), que será mostrado ao árbitro no momento da troca do atleta. Após o apito final, o médico o devolverá, com sua assinatura e o número do jogador, depois de preencher um questionário obrigatório detalhando os sintomas identificados e o tratamento feito com o atleta, como, por exemplo, se foi submetido a uma tomografia computadorizada, se ficou em observação no hospital ou em domicílio/hotel, entre outros. Seguindo o novo protocolo, os atletas deverão ser conduzidos para o hospital após ter sido substituído. Posteriormente, um relatório deverá ser enviado à Comissão Médica da CBF que irá verificar se os procedimentos preconizados foram cumpridos. O relatório deverá informar a evolução do quadro do jogador, o protocolo de retorno aplicado para voltar a competir e a data do retorno do jogador para a próxima partida.


Mulher examina um painel com imagens do cerebro
Exame de imagem cerebral

O que é concussão?

A concussão relacionada ao esporte (CRE) é uma lesão cerebral traumática causada por um golpe direto na cabeça, pescoço ou corpo, resultando em uma força impulsiva transmitida ao cérebro que ocorre em esportes e atividades relacionadas ao exercício. Isso inicia uma cascata neurometabólica com possível lesão axonal (desconexão imediata dos axônios observada em lesões cerebrais graves), alteração do fluxo sanguíneo e inflamação afetando o cérebro, o que se relaciona aos sintomas clínicos pós-concussionais.

Os sintomas e sinais podem se apresentar imediatamente, ou evoluir ao longo de minutos ou horas, e geralmente se resolvem em poucos dias, mas podem ser prolongados. A concussão relacionada ao esporte resulta em uma série de sintomas e sinais clínicos que podem ou não envolver perda de consciência. Cronicamente, as concussões cerebrais poderão originar comprometimento funcional, incluindo transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), depressões, psicoses, cefaleia crônica, e até suicídios. Consensus statement on concussion in sport: the 6th International Conference on Concussion in Sport– Amsterdam, October 2022


Os efeitos residuais da concussão e a encefalopatia traumática crônica (ETC)

A encefalopatia traumática crônica (ETC) é uma alteração neuropatológica progressiva. Historicamente, uma condição clínica associada a traumatismo cranioencefálico crônico que tem acometido praticantes de esportes de lutas, como boxe e MMA, e esportes como o futebol americano e o futebol. A doença também é conhecida como “demência pugilística”. No Brasil, Éder Jofre e Adilson Rodrigues, o “Maguila”; e Muhamed Ali, nos Estados Unidos, também foram diagnosticados com a doença.

Em 2016, o lutador de MMA Wanderlei Silva revelou ter identificado diversos sintomas da ETC. Atualmente com 46 anos de idade e mais de 50 lutas de MMA, o atleta afirmou que tinha 12 dos15 sintomas, citados por um médico especialista em palestra que havia assistido. Entre os sintomas citados pelo lutador estavam: alteração do humor, dificuldade de conciliar o sono e falhas de memória.


 O caso de Bellini


O rosto do Ex-jogador de futebol Bellini com curtivo do lado direito do rosto com marcas de sangue
Bellini, ex-capitão da seleção brasileira de futebol campeã da Copa do Mundo de 1958 na Suecia

No futebol, um caso de repercussão internacional, sendo considerado o primeiro descrito desta doença no futebol., ocorreu com o ex-capitão da seleção brasileira, campeã da Copa do Mundo de 1958, Hilderaldo Luís Bellini, o Bellini. O ex-zagueiro, que faleceu em março de 2014, com 84 anos, foi diagnosticado com a doença de Alzheimer após algumas décadas da aposentadoria. Após a sua morte, o médico que o acompanhava, Ricardo Nitrini, da Faculdade de Medicina da USP, convenceu a viúva do jogador a doar o cérebro do marido para realizar estudos. Dada a permissão e realizados os estudos, o Dr. Nitrini concluiu que o ex-jogador não tinha Alzheimer, mas a ETC. A causa do distúrbio foi o excesso de pancadas na cabeça recebidas nos 20 anos de carreira profissional.


O Dr. Bennet Ifeakandu Omalu e os primeiros relatos da doença

Os primeiros relatos sobre a doença foram produzidos por Bennet Ifeakandu Omalu, médico nigeriano-americano, patologista forense e neuropatologista, responsável por descobrir e publicar achados de ETC em jogadores de futebol americano da NFL enquanto trabalhava no Instituto de Medicina Legal da Pensilvânia (EUA). 

Homem negro de terno e gravata discursando com microfone na mão
Dr. Bennet Ifeakandu Omalu descubriu e publicou sobre a ETC

O interesse por novos estudos surgiu após a autópsia de Omalu no ex-jogador do Pittsburgh SteelersMike Webster, em 2002 Ele avaliou 35 jogadores de futebol americano aposentados e concluiu que 31 deles tinham a doença. A NFL, liga profissional do esporte, rechaçou incialmente as descobertas de Omalu, que sofreu uma enorme pressão para desfazer as descobertas. Dirigentes e patrocinadores temiam a perda de negócios bilionários com a redução do número de praticantes e aficionados da modalidade. O Dr. Omalu se manteve firme e, após uma longa batalha judicial, a entidade teve que pagar mais de 765 milhões de dólares para os atletas prejudicados.


Nota: O filme “Concusion”(2015) ou "Um Homem entre Gigantes" (titulo no Brasil), estrelado por Will Smith e Alec Baldwin.conta o caso.das descobertas do Dr. Omalu (disponível na NETFLIX)


 




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