Olimpíadas Rio 2016. A vitória da candidatura
Por Aldemir Teles
1/1/2016
ESPECIAL | Análise
Conduzir o leitor a uma reflexão sobre os Jogos Olímpicos do Rio 2016, os benefícios propagados pelas autoridades envolvidas e as chances de sucesso. Eis a principal razão deste trabalho, diante dos acontecimentos a partir da vitória da candidatura em 2009 até o momento atual brasileiro. Afinal, Olimpíadas não são apenas Esportes, mas Política, Economia, Cultura e questões sociais. Daí a complexidade, nem sempre percebida por todos. A abertura dos Jogos será no próximo dia 5 de agosto. Começamos analisando a conquista da sede e o momento político e econômico do País em 2009.
“O otimista é um tolo. O pessimista é um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”
(Ariano Suassuna)
O ano de 2016 se inicia com a expectativa da realização no Brasil (Rio de Janeiro) dos XXXI Jogos Olímpicos. Passados 120 anos de histórias espera-se que lições de acertos e erros possam ter ajudado o nosso País a planejá-lo de forma eficiente, provando nossa capacidade de superar o desafio de realizar com sucesso o maior evento cultural da humanidade.
A importância dos Jogos Olímpicos não se resume ao espetáculo esportivo capaz de atrair bilhões de espectadores. Os Jogos celebram a convivência harmoniosa entre os povos através da linguagem universal da beleza atlética do esporte e simbolizam um apelo à continuidade do processo civilizador.
Importante destacar inicialmente que era impossível prever, em 2009, as mudanças sofridas no cenário político, econômico e social que enfrentamos agora. Isso pode fazer a diferença entre o sonho, a euforia e a realidade sensível.
A conquista brasileira em Copenhague
O Brasil conquistava em 2 de outubro de 2009, em Copenhague (Dinamarca) o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016, na cidade do Rio de Janeiro, após várias candidaturas frustradas. A primeira delas ocorreu para os Jogos de 1936, quando não obteve nenhum voto; depois duas novas candidaturas, para sediar as Olimpíadas de 2004 e 2012.
Além do ineditismo de sediar os Jogos pela primeira vez na América do Sul, o Brasil acabava de entrar no seleto clube dos três países a receber a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos em um prazo de dois anos. Os outros países foram o México, que recebeu os Jogos Olímpicos em 1968, na cidade do México e o Mundial de Futebol em 1970; e Alemanha com as Olimpíadas em 1972, na cidade de Munique e a Copa do Mundo de 1974.
O processo de candidatura entrou na reta final em setembro de 2008, quando a comissão do COI que avaliou as condições dos finalistas divulgou relatório apontando Tóquio como a cidade que teve a nota preliminar mais alta, mas perdeu o favoritismo, principalmente devido aos baixos níveis de apoio popular recebidos. Chicago sofreu com protestos internos e com problemas em relação às leis americanas. Madri também teve problemas com a legislação. O Rio de Janeiro, apesar de ter tido boas notas, teve problemas com os quesitos acomodação e transportes.
Madri e Rio de Janeiro chegaram à final, vencida pela candidatura brasileira com mais de 2/3 dos votos. O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que participou da cerimônia, chorou ao saber do resultado e afirmou que a ocasião serve para encerrar o complexo de inferioridade existente no Brasil.
Foram investidos na candidatura pelo governo federal, em convênios com o COB, cerca de R$ 56 milhões; outros R$ 35 milhões foram investidos pelo Ministério do Esporte; o setor privado, como Bradesco, TAM e Odebrecht investiu cerca de R$12 milhões; e o grupo EBX de Eike Batista, sozinho, investiu R$ 23 milhões,
A conquista brasileira diante das cidades concorrentes com reconhecida força na economia, desenvolvimento social e forte tradição cultural, valorizaram ainda mais a nossa vitória. Subimos ao pódio onde poucos acreditavam que essa façanha pudesse acontecer naquele momento.
Os fatores que levaram à conquista
Dentre os motivos considerados para o sucesso da conquista destacam-se: o bom momento da economia brasileira e as garantias de investimento do Governo, cerca de 29,5 bilhões de reais; o trabalho de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), em parceria com o ex-ministro dos Esportes Orlando Silva; e a perspectiva de descentralização sócio-geográfica, um passo importante defendido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para a universalização dos Jogos.
Aspectos sentimentais, como a simpatia que os brasileiros despertam mundo afora, também podem ter contribuído. Um feito histórico para "o último País alegre do mundo", no dizer do professor e filósofo português Manoel Sérgio. Ou na opinião do sociólogo italiano Domenico DeMassi: "Em nenhum outro país do mundo a sensualidade, a oralidade, a alegria e a 'inclusividade' conseguem conviver numa síntese tão incandescente".
Por outro lado, o jornal El Pais atribuiu boa parte da vitória à enorme popularidade mundial do “carismático ex-metalúrgico e presidente Luiz Inácio Lula da Silva”. Além de Lula, a atuação do deus do futebol, Pelé, e do mago carioca Paulo Coelho, "que soube ganhar a simpatia das mulheres dos delegados do Comitê Olímpico Internacional (COI), às quais convidou para jantar em um restaurante em Copenhague, em um clima de felicidade brasileira", informou o jornal espanhol.
Terminada a festa e passada a ressaca era preciso refletir sobre a realidade do esporte no país. "Sim, nós podemos", (“Yes, we can”) essa era a frase do momento. Nós podemos mesmo? Há tempo carecemos de uma política de esportes consistente, com objetivos claros e prioridades bem definidas, que não temos até hoje. Não tínhamos um projeto de fomento à cultura esportiva, especialmente nas escolas. E nem temos ainda. Não tínhamos infraestrutura adequada para atender à formação de atletas, nem temos ainda, passados cerca de sete anos.
Alguns atletas, na época, opinaram sobre a situação do esporte no Brasil: “Atletas temos muitos, e com bom potencial. O que não temos é estrutura. É nisso que as nossas autoridades têm que pensar, urgentemente. Ou seja, em criar uma estrutura para desenvolver o nosso esporte”, disse a ex-atleta Hortência. Guga, ex-tenista, opinou assim: “Temos talentos no Brasil, mas eles são mais resultado de uma pessoa acreditar em si e fazer um trabalho individual”. Curiosamente, o psicólogo Robertto Shinyashiki, da equipe olímpica em Sydney, questionado sobre as possibilidades do Brasil e a ausência de pódio de ouro sentenciou: “O que mata o nosso atleta é que tem um adversário do outro lado...”
Referendo
Um movimento interessante que tem preocupado o Comitê Olímpico Internacional (COI) são as desistências de candidaturas das cidades, após a realização de consultas populares sobre a viabilidade de realização dos Jogos. Para as Olimpíadas de Inverno de 2022, várias cidades retiraram as candidaturas após o referendo. São elas: Munique, St. Moritz-Davos, Estocolmo e Cracóvia. Em novembro deste ano, a população de Hamburgo, Alemanha, se recusou em sediar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024. O fato que vem despertando a atenção internacional sobre os impactos negativos de se organizar um megaevento.
Os motivos principais da resistência dos cidadãos são os custos altos e imprevisíveis, e a desconfiança em relação ao organizador do evento, o COI, capaz de obter altos lucros com durante o evento, enquanto a cidade sede e o país têm que arcar com os elevados custos da organização. No Brasil, não temos tradição para a realização de referendos desse tipo, embora a realização de grandes eventos tragam implicações de várias ordens para a população, para o bem ou para o mal.
A pesquisa (não referendo) do IBOPE, realizada em setembro de 2015, revela que 73% dos cariocas aprovam os Jogos Olímpicos. Isso a menos de um ano para a realização do megaevento.
O Cenário econômico e político em 2009
O ex-presidente Lula tinha a popularidade em alta, mesmo depois de cair para 50% o índice de aprovação do seu governo em 2008, época do mensalão. Em 2009, atingiu 84% de aprovação, a mais alta do seu mandato, segundo a pesquisa CNT/Sensus. O clima era de estabilidade política. O governo tinha maioria no congresso e na oposição poucos se arriscavam a cirticar o presidente e os programas econômicos e sociais.
Um dia após a conquista da sede dos Jogos Rio 2016, o ex-presidente Lula afirmou que prioriza os resultados em relação aos gastos para o evento. "A gente não tem que olhar quanto vai gastar, tem que olhar quanto a gente vai ganhar. É uma oportunidade para consertarmos um pouco mais o País”, afirmou. Era um desafio aos dados da economia. Após crescer 4,7%, em média, durante o período de 2004 a 2007 e se expandir em 5,2% em 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 0,3% em 2009. Era a maior queda em 17 anos. O mundo estava mergulhado numa crise econômica, mas Lula tratava como uma “marolinha”. Os brasileiros não imaginavam que entre 2009 e 2010, anos que precederam a eleição de Dilma Roussef, se iniciava a atual crise no País. Segundo os especialistas, para eleger Dilma, o ex-presidente desenvolveu políticas que levaram a ampliação dos gastos públicos e incentivo desenfreado ao consumo, com crédito fácil, apostando no mercado interno como motor da economia. Havia certa euforia, “pobre agora viaja de avião”, dizia-se.
Para ele, Lula, a conquista da sede das Olimpíadas sinalizava que estávamos próximo do paraíso. “No fundo, a Olimpíada e a Copa são oportunidades para que possamos tentar resolver os problemas sociais. Até porque elas serão feitas para a população, não pelo governante 'A' ou 'B'.”, disse ele. As promessas não paravam por aí, incluíam tamém cobranças na área do esporte, alimentando de esperança os esportistas brasileiros. Afirmou que requisitaria de todas as federações esportivas do país “um plano de metas para as duas próximas Olimpíadas, de Londres-2012 e para a do Rio”, na intenção de melhorar a posição do país no quadro de medalhas.
"Nós vamos reunir todos os presidentes das federações das modalidades que disputam a Olimpíada e vamos exigir que eles nos entreguem um plano de metas para 2012 e para 2016. Na verdade, nós vamos começar um trabalho agora aprimorando os atletas que nós já temos e criando (sic) novos atletas para nosso país. É um momento de ouro para que, nesse clima de Olimpíada, possamos fazer o que não conseguimos até agora", prometeu o ex-presidente Lula.