Estudo compara os efeitos dessas terapias no trantorno da ansiedade e da depressão

Os transtornos de ansiedade e depressão causam imenso sofrimento por comprometerem a saúde mental e física. A necessidade de tratamento é premente. De acordo com estudo epidemiológico, a prevalência da depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com a OMS, o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população. Há também um alerta inquietante sobre a saúde mental dos brasileiros: uma em cada quatro pessoas no país sofrerá com algum transtorno mental ao longo da vida (Conselho Nacional de Saude) .
A medicação antidepressiva é, ao lado da psicoterapia, considerado um tratamento padrão, com eficácia moderada e tolerabilidade suficiente. Os antidepressivos, no entanto, não são eficazes para todos e muitas vezes estão associados a efeitos colaterais. Uma alternativa interessante de tratamento é a terapia com exercício.
Metanálises mostraram que, para depressão leve a moderada, o efeito de intervenções de exercícios é comparável a medicamentos antidepressivos e psicoterapia (com maiores efeitos para exercícios aeróbicos com intensidade moderada, supervisionados por profissionais de educação fisica), enquanto para depressão grave intervenções com exercícios físicos parecem ser uma terapia complementar valiosa. Para pessoas com transtornos de ansiedade, as intervenções com exercícios também mostraram efetividade semelhante aos tratamentos estabelecidos. Embora antidepressivos e intervenções com exercícios possam ter um impacto comparável na saúde mental, seu impacto na saúde física é pouco pesquisado na população psiquiátrica.

Um novo estudo “Antidepressivos ou corrida como terapia: Comparando efeitos sobre a saúde mental e física em pacientes com depressão e distúrbios de ansiedade” (tradução nossa) [1], publicado no Journal of Affective Disorders. examinou os efeitos da terapia com uso de antidepressivos versus corrida sobre a saúde mental e atividade física. O artigo concluiu que a terapia da corrida rivaliza com a medicação para o tratamento (remissão ou taxas de resposta) da depressão, ansiedade e seus efeitos sobre a saúde mental. A corrida, entretanto, proporciona maiores benefícios a saúde física. Apesar disso, o tratamento medicamentoso tem maior adesão que a prática do exercício.
Ambas as intervenções ajudaram com a depressão na mesma medida. A medicação, por sua vez, teve pior impacto no peso corporal, na variabilidade da frequência cardíaca e na pressão arterial, enquanto a terapia de corrida levou a um efeito melhor no condicionamento físico geral e na frequência cardíaca", disse a apresentadora do estudo Brenda W.J.H. Penninx, PhD, professora de epidemiologia psiquiátrica do Centro Médico da Universidade VU em Amsterdã, na Holanda, em um comunicado.
O estudo de intervenção, de 16 semanas, incluiu 141 pacientes com depressão e/ou ansiedade. A média de idade foi de 38,2 anos e 58% eram mulheres. Os participantes receberam um dos tipos de tratamento: 16 semanas de tratamento com o inibidor seletivo da recaptação da serotonina (ISRS) escitalopram (Lexapro) ou uma terapia de corrida em grupo de 16 semanas.
A terapia de corrida envolveu 16 semanas de sessões supervisionadas de corrida ao ar livre, de 45 minutos, para uma meta de duas a três sessões por semana, de acordo com as recomendações dos Centros de Controle de Doenças dos EUA (CDC) e do Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM).
A adesão ao tratamento no grupo com uso de antidepressivos foi de 82,2% vs 52,1% entre os participantes da terapia de corrida. A análise demonstrou que quando comparada a taxa de remissão, após 16 semanas, foi de 44.8 % para o grupo tratado com antidepressivos e 43.3 % para o grupo de corrida.

No entanto, os pacientes em terapia de corrida apresentaram melhoras significativas no peso (P = .001), circunferência da cintura (P = .011), pressão arterial sistólica e diastólica (P = .011 e P = .002, respectivamente), frequência cardíaca (P = .033) e variabilidade da frequência cardíaca (P = .006).
Os antidepressivos são geralmente seguros e eficazes e funcionam para a maioria das pessoas, disse Penninx. Ela também observou que a depressão não tratada leva a piores resultados, então "os antidepressivos geralmente são uma boa escolha". No entanto, disse ela, "precisamos estender nosso arsenal de tratamento, pois nem todos os pacientes respondem aos antidepressivos ou estão dispostos a tomá-los". Os resultados do estudo, acrescentou, sugerem que "implementar a terapia de exercícios é algo que devemos levar muito mais a sério, pois pode ser uma boa escolha, e talvez até melhor, para alguns de nossos pacientes".
Francesca Cirulli, PhD, pesquisadora sênior e líder de grupo no Instituto Nacional de Saúde, Roma, Itália, disse ao Medscape Medical News que o estudo é notável porque é um dos primeiros a medir prospectivamente os efeitos dos antidepressivos e da corrida na saúde física. Cirulli sugeriu que a terapia de corrida poderia ser tentada antes do tratamento com antidepressivos se os pacientes preferirem o exercício físico e puderem aderir a ele. No entanto, segundo ela, os resultados também sugerem que o aumento da atividade física deve acompanhar o tratamento com medicamentos antidepressivos. No geral, Cirulli disse que "a mensagem não deve ser que todos podem ser ajudados correndo e antidepressivos são ruins", mas sim "essas intervenções são úteis, mas não definitivas, contra a depressão".
NOTA:
Pessoas que são capazes de fazer exercícios enquanto estão deprimidas e possam aderir a eles serão beneficiadas por essa prática, no entanto, nos sintomas de depressão e outros transtornos mentais deve-se buscar ajuda de um psiquiatra, que poderá avaliar, recomendar a terapia adequada e acompanhar a evolução do caso.
[1] “Antidepressants or running therapy: Comparing effects on mental and physical health in patients with depression and anxiety disorders” (Verhoeven, J. et. Al, JAD Volume 329, 15 May 2023, Pages 19-29)
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